Cheira tudo que se move ... Olha tudo que perfuma... E come tudo que sente! Sem digerir nada! Bebe litros de culpa, e depois... Vomita! Até livrar-se por completo do mal estar! Amaranta já encontrou o seu lugar no mundo, e o seu lugar em si mesma, que é fora de si!



terça-feira, 28 de junho de 2011

Buracos

E quando o frio corta?
Quando a sonata é insône?
Quando a pele fina é pele morta?
Quando a dor já não tem nome?

Se os sinos param, e as igrejas vencem mesmo assim
Com seus rebanhos, seus horários de tosa e banho?
Se a inquietude for manipulada em farmácia?
Se essa raiz quiser ser copa nas acácias?

Pensa no que não incomoda e não dói!
No que não se pensa e não se diz!
No que permanece, no que não constrói
Nos tratados milionários escritos a giz!
( E eu que nem sei se gostaria de tratar as coisas com esses preços absurdos! )

Pensa na palavra coisa
E se ela perde proporção?
onde guardar o coração
De todas essas coisas
Que ficaram para abrigar em mim?
Que sou frágil ser, insubstancialvel
De um buraco sem fim!

Ultimato!

Sim! Eu exijo-te todo de olhos e bocas
Atenções voltadas para o meu centro
Meu egoísmo! Minha divindade!
A mim, que devo ser tua
Por querer bem demais
Pudera ser deveras livre
E meus olhos pregados nos galhos
Não despencaram de ti
E não te fusilaram por detalhes.
Te vestem de um todo
Que não é a mínima parte do meu amor!
Se eu quiser, eu vou embora!
Mas apenas se eu quiser!
Quando estou sem graça
É a tua mão que me aprimora os detalhes!
E os teus dedos são agulhas finas
Que me doem e fazem cócegas!

Retiro tudo o que eu disse
Sempre que você discorda
E rocoloco em uma ordem aleatória
Porque sou teimosa
E eu também sei!

Porque no fundo, eu gosto dos teus olhos de guardar segredos!
Do teu querer sem certeza se quer
Desse remanso, dessa ressaca
Da minha falta de fé
Eu gosto!

Porque no fundo, o que você deseja sou eu
De me ver fruindo
De eu me deixar fluindo
Até a dor que mora em mim arrefecer
Você gosta!

Nessa falta de retas
Nesse monte de curvas
Nessa ausência de linhas ( Evoé! )
"Evoé" ficar na minha!
( Você sabe como é! )

Espasmos! Eu pasmo e ponto!

Sim! Eu pasmo!
Pasmo com meus espasmos!
E de orgasmo em orgasmo
Eu alcanço o inferno
Em pleno céu!

Músculos retraídos
Tão singelos, sem sentidos
Que se forçar, dói
Se esticar, destrói aos poucos
Todo o movimento de um prazer
Que guardaram pela metade
Em geladeiras, ou potes de sal

E paralisa todo o movimento!

Eu não espero pasmar ninguém!
Mas esses espasmos
Fossem como os orgasmos
Me seriam agradáveis e bons de sentir.
Acho natural que seja assim
Não pasmem com isso
Seria, espasmo, e ponto!

As coisas pra mim



Penso coisas!
 Penso também na palavra “coisa”.
Acho que isso me faz ser autêntica!
Ao passo que quando penso nas coisas
Não sei o que coisa quer dizer!
Pode ser qualquer coisa, eu não sei!
Mas de uma coisa eu sei bem:
Eu sou autêntica!
E vou dizer outra coisa:
- Ninguém sabe que tipo de coisa acontece comigo
Pra tentar provar o contrário!
Não!
Somente eu sei que imagens meus olhos vêm ou não querem ver
Aroma que nariz cheira ou espirra
Sabor que boca engole ou cospe
Carícia que pele toca ou arranha
Música que ouvido harmoniza ou desafina
Essas coisas são muitos pessoais!
Por isso...
Essa coisa de ser autêntica!



Nós e Fios

Tenho por opção o andar torto
É por isso a minha dificuldade com a linha do tempo.
Olhares me atravessam o tempo todo na rua
E o tempo todo eu atravesso os olhares
Com minhas ruas destruídas e paisagens
Tão naturais e próprias
Como o sentido de uma palavra "Eu".
Curta, simples, eficiente...
E tão sem importância pra mim
Que quando me dou conta
Somos nós!
Em madrugadas a fio
Em tardes a fio
Em manhãs a fio
Em noites a fio
Emaranhados de nós!

Corporalidade

Corporalidade

por Cintia Luando, terça, 28 de junho de 2011 às 00:01
 Tenho o corpo cansado, pedinte
Estagnado em uma ausência de sonhos
Que morrem pela noite afora.
Tenho sobre esse corpo
Uma pele fina e triste
Que se arrepia sozinha
Numa tentativa vã de sentir o toque
Dos amores presentes e sem futuro
Desse novo tempo que aflora
De fruto verde, porém maduro
Cajú-manga-laranja-amora
Não sinto gosto quando é escuro!
Não sinto pena quando o amor demora!
Não sinto nada que o corpo pede
Porque o que eu quero desse corpo
É que ele vá embora!

Poema de luz no escuro

Um lado que vive no escuro
Desperta branco e puro
E me seca!
Um lado que vive na luz
Adormece negro e insosso
Cansado de tanta cruz!
O torpor e a lucidez
Se amam alucinadamente
E me invadem com furor fulgaz!
Tenho medo!
Medo dos pobres mortais que nada sabem...
Medo de que a vida seja menor
Diante da intensidade tola!
Não quero saber de nada
É noite...
E eu estou na espreita
Esperando uma alvorada que não existe
É pura alucinação!

Devenho na escrita

Escrevo porque não sei o que fazer de mim, aí me desconstruo em palavrões e mando todo mundo ir tomar no cú!
Que é pra eu ficar com esse vazio todo só pra mim, e não ter que fazer de mim, nada, dentro do meu vazio interno!

Alguém pode me dar uma mão?
Vão pro inferno com seus pés!
Eu pedi uma mão e querem me pisar no que eu tenho de altura?

Sempre me pego cansada no fim da noite
Costurando sonhos feitos de seda que ninguém sabe que existem!
Ah! Se eu pudesse fazer deles um manto pesado
Entrava embaixo e morria sufocada em utopias doces
Porque hoje faz um frio dos diabos!

Escrevo porque do contrário entupia minhas artérias!
Com sangue coagulado evitando correr pelas veias
Por medo da velocidade absurda de meus impulsos febris!
Escrevo porque não aprendi ainda a fazer nenhuma outra coisa
Só sei escrever!
E hoje, pobres poetas, continuam pobres e poetas!

Na sarjeta, tive impressão de ler meu nome!
Não pode ser, porque ainda não cheguei lá!
Ilusão de ótica maldita!
Deve ser falta do que não ando fumando
Do que não ando bebendo
Do que não ando vivendo
Por assumir um compromisso sério demais!

Talvez, eu viaje!
E comece a escrever um livro de bordo e só!
Talvez, eu desapareça!
Poeira, pó, pinguinhos d'água...

Escrevo porque não sei porquê!
Só escrevo...
Como se fosse um vomitar anímico cheio de dor!

Íris

  Um dia, abri os pequenos olhos e não quis chorar! Esbocei um sorriso na íris, e fomos andando nas ruas, olhando as pessoas, sorrindo para elas, sem receber muitos sorrisos de volta!
Mas é claro que isso não me incomodou! E porque eu haveria de me incomodar com a ausência de sorriso alheio? Por acaso é novidade que as pessoas estão ficando mais tristes conforme a ausência de tempo?
   Nesse instante, furioso, um senhor acusou-me de calúnia! Uma espécie de corpo sem rosto, só que corpo-móvel, corpo-ágil... Parecia feito de vento. Apresentou-se como o próprio tempo  e não economizou sermões:
- Quero saber, quando é que eu faltei! Me diga!
Eu, rapidamente e muito constrangida, fui enrubrescendo... Até ganhar um aspecto pitoresco! E não é que o danado tinha razão? Tempo não falta! Tempo é o que sobra!
-O que falta é gente pra viver o tempo! - Resmungou o velho!
Tive que concordar!
Ajudei ele a enrolar uma barba tão grande e branca durante tanto tempo, que pensei ter alcançado a graça de ser imortal. Que nada! Ele me deu foi uns minutinhos de descanso, e me mandou voltar ao meu instante normal, porque ele precisa correr! Obedeci!
  Voltei para minha íris, tão menina dos olhos meus... Fitávamos cada nariz, olhos, boca, cabelo...
Caí na gargalhada!
- Que foi? Tá me olhando porque? E tá rindo de quê? Não tem medo não é? Vou te mostrar!
Se não fosse alguma mão pra segurar aquelas mãos, eu não estaria escrevendo isso hoje!
Como pode? Queriam me bater por eu achar graça no constrangimento que as pessoas têm ao serem obeservadas. Ìris, não olha mais outras íris, e nem sorri. E quando uma íris percebe a outra, a que está sendo olhada geralmente procura se esconder atrás de pálpebras cerradas. Perderam o hábito de se olharem, assim como perderam o hábito de viver o tempo.
  Uma felicidade estranha me dominou naquele instante! Uma espécie de conforto em saber que meus horários são maleáveis para que eu possa viver o tempo, que não importa quantos olhos fechados eu vou ver, mas que sempre haverá um olhar aberto para minha íris descansar, e que sou feliz! E minha felicidade não foi comprada em cartões de crédito, cheque ou à vista... É minha, porque a cativei no mesmo dia em que o pequeno príncipe cativou a rapozinha... Agora, somos dois responsáveis. Só que em vez de rosa, tenho a minha íris, que é linda de morrer. Permita-se observá-la!

O coma

Pólvora...
Infestou meu ar, e aqueceu meu peito!
Desceu, rumo Inferno, tonto eleito!
Aonde estou?
Baleado...
Justo nessa camisa?
Tentou rir, mas só tossiu.
Um Rio desliza vermelho,
não só em Janeiro.
Hospital...
As flores deviam animar,
mas o coma mantem o ar frio!
sete dias sem cheiros nem cor(es),
Sete dias de morte das flores
Que respiraram com egoísmo
O restinho de vida que eu guardava
Para sair daquele hospital.
Ao menos ornavam um leito...
E não superfícies de terra
Ou gavetas
Onde jogam os restos mortais
De qualquer desconhecido
Ainda não...
Eu não quis nenhuma luz branca!
Eu procurei ficar sozinho, no escuro mesmo...
Até que um diabo moderno resolveu me atazanar.
- Você que não tem boas memórias...
Devia mesmo encher seu peito de raiva
E voltar lá pra cima, e se vingar, dar cabo naquela gente ruim!
Senti naquela hora um rio deslizar vermelho
Já se passara Feveiro
E nas águas de Março
Eu me afogava com as minhas pernas dormentes...
Sem saber para que existiam agora.
Sem saber para quem eu existia
Já que nem para mim eu podia acordar
E pensar que havia escapado de um pesadelo.
Na malha da minha camisa preferida
Estampas avermelhadas secavam na lavanderia
E mulheres todas de branco, e vestidas iguais
Lavavam as roupas dos enfermos.
Eu podia ouvir do quarto suas vozes.
Eram vozes de negras fortes
Dessas que lavam roupas em beira-rio.
Eu já havia dito que queria estar sozinho
E expulsei o pobre diabo do meu momento!
E quando anjos cheios de perfeição tentaram aproximar-se de mim
Eu dei um berro: - Para o inferno com toda essa perfeição...
Que eu não sou santo! Porém sou digno em minha humanidade.
Anjos perplexos caíram do céu no chão do quarto hospitalar.
E ninguém sabia o que fazer comigo...

( Cintia Luando e Rodrigo Mahom )

Sem título ( Por ser só uma escrita com vontade )

Quero escrever qualquer coisa que substitua agora esse desejo de nada!
Eu, que não sou insalubre, incolor ou inodoro...
Eu que tenho pavor do insosso!

Eu quero falar além da imagem que é vista
E quero despí-la pelo não-cotidiano
E não pela pornografia!

Eu quero a tinta da caneta de Deus
Para fazer qualquer garrancho...
Assim espanto o tédio e o ócio
E todos poderão dizer que me viram fazendo alguma coisa!

Eu quero alguns versos rebuscados
Para escrever neles a palavra "embaraço" em diversas roupagens
E depois, libertá-lo com palavras simples
Que todos entendam!

Eu quero parar de querer...
Eu queria não ficar só querendo!
Por isso eu escrevi esse pensamento...
Para poder realizar o meu querer escrever, que é antigo...
Desde antes de sentar aqui nessa cadeira
E brincar de escrever poemas enquanto passa o tempo lá fora...
Eu queria escrever isso, que agora...
Acabou!

Olhares!

Olha aquele olhar!
Deitado sobre a pedra
Encolhe o sal...
Aberto sobre a grama
Espalha o mar...
Correndo entre as folhas
Turbilhão!
Parado sobre a terra
É o próprio ar...

E a retina imprime
Milhões de tempestades no além-céu
Tem fogo que de rubro faz-se um véu
É tanta intensidade nesse olhar
Que os olhos que te olham ficam sem piscar!

Olha aquele olhar!
A pálpebra que fecha, se abre em flor
A lágrima que salta, é  puro amor...
Quando lhe toca a pele
Se faz vento
Dentro daqueles olhos
Mora o tempo!

Autêntica

Eu sou autêntica!
Na dor que sinto não procuro remédios
Eu deixo arder!

Solidão?

Me acompanha noite e dia...
E eu gosto de ser só
Porque assim, penso em mim como meu anjo- próprio
Uma espécie de amor alado
Que mergulha de mim para mim!

Assim... Calado!
Sem ninguém saber!

Quando me dou conta...
Deixei escapar dores líquidas pelos olhos
E estes, ficam rubros
Como se tivessem vergonha de serem expostos em vermelho-sangue.

Eu digo a eles que chorar é ato nobre...
E o peito se abre todo!
Eles respondem com cheiro de morte
E eu grito de volta dizendo que não gosto disso!

Eu sou autêntica, já disse!
Eu danço nua pela casa quando ninguém está vendo...
E rolo de rir pelo chão...
E é tanto riso, que barriga dói!

O porquê do riso que me intriga...
Não tem motivo aparente!
Também as dores não têm!

Existem coisas que simplesmente são...
Sem ter que ser.
Porque são apenas durante...Depois, mudam
Não são mais!
Então...
Não são?
Ou seriam, são, só que no tempo certo?

É! Me agrada isso...

Eu sou autêntica também em minha complexidade!
Em meus ângulos agudos, e obtusos...
Não cabem contagens exatas!
Minhas reações não podem ser relatadas...

Sou a Imatemática materializada em um sorriso doce...
A tristeza que tomou forma em olhinhos juvenis
E o amor com braços e pernas
Abraços e coxas...
E muitos pés!

Para que eu mesma me sirva de guia
Pelos caminhos alternativos que me cabem pisar!
Exercendo em toda potência
Aquilo que sou eu!

Porque sou autêntica
E reconheço-me sem precisar de espelho, ou RG!

Nada!

Alguém para assoprar o pavio
E cessar de arder!
Chama ruim, que me chama
Me inflama
E eu pensando em morrer

De tédio, de solidão...

Na ausência, o meu próprio" não" me consola!
Porque tenho habitado o mundo assim...
Pelas beiradas
Sem fotografias guardadas
Sem decorar os conceitos que me ensinaram na escola!

Um passo pelo pé no chão e só!
Nada além de terra!
Nada além de areia!

Nada!
Essa palavra estranha
Que tudo define
Mora em mim!
Nada!

Fio de vida enroscado em qualquer teia
Nada!
Não há o que tecer...
Nada!

Recolho minhas migalhas
Enquanto o mundo me assiste comendo pipoca!
Vou juntando os restinhos... as sobrinhas...
Colocando em potinhos vazios cheios de...
Nada não!

Sinto uma vontade tão grande de ir embora, sabia?
Um ranger de dentes assombroso ecoando no que tenho de mais profundo...
Arrastando correntes...
Bem onde antes, a menina dançava...
Agora... Nada!

Grito!
Grito de gente mesmo
Como se fosse bicho!
Um grito!

Gritar é sonorizar o desespero!
É emprestar a voz ao peito doente de dor...

Passou diante dos meus olhos
Em vôo razante alguma especie de cor escura...
Tinha cheiro...
E fazia um som estridente...
Foi um grito! Meu grito!
Mas não se preocupem
Não é nada não...
Apenas um gemido alto e descontente!

O dia em que proibiram poesias de amor e morte ao um jovem poeta

Disseram que um poeta jovem não pode falar de amor e morte!
Porque são coisas de fino corte, que corações de moço desconhecem...
Pois eu digo que não prevalecem
Poemas escritos por mera idade
Se não houver verdade tatuada nos olhos de cada palavra!

-A morte é macabra!
Disse um jovem ao cruzar a rua!
Mas ao chegar em casa
Sua carne toda nua
Sentiu desejo de morrer!

Não era uma questão de crescer!
Era dor latente!

Daquelas que toda gente sofrida
Deveras sente!
Quando a alma passa a doer!

Por isso insisto em escrever sobre o tema que eu quiser!
Não venha me dizer que não sei da morte ou do amor
Porque sou mulher, e já morri em minha dor
E meu amor era além-mar!
Feito barquinho entregue às ondas
Correndo riscos de naufragar!

E já amanheci em pedaços na areia...
Morrendo de frio!
E por dentro
Amor que incendeia.
De casaco de lã, a mero fio...
 Mas que aquece!

Então não menospreze minha pouca idade...
Se tudo que eu vivo é com intensidade!
Permito-me a audácia de um poema
Para que minha alma ainda pequena
Possa ir registrando o seu crescer!



Já desejei e não tive!
Já tive e perdi!

O quereres

Já não me prendo aos ruídos...
Ecos gritantes estilhaçadores de vidraças!
Quero o fino da seda no ato de escutar...
Som de passarinho sim!

Não quero mais dar ouvidos
As minhas próprias palavras sem pés
Que saem se arrastando pela minha alma
Querendo que eu as acompanhe rasteira...

Porquê meu Deus, é tão normal pra mim ser cruel assim comigo mesma?
Será que não há beleza em minha vista?

Minha rigidez é natural das pedras
Que não rolam com facilidade
E não são maleáveis pelo tempo!
Enveneno mesmo o pesamento!
Espécie de vício hostil
Que conservo por força do hábito
Criado por me amar de menos
Sentir menor!

Tenha dó!
Que não quero mais sentir pena de mim!
O que eu quiser eu posso sim
É só querer!

-Tá bem!

Eu quero!
Eu quero!
Eu quero!

Ainda quero...
Querendo muito...
( Já correndo! Sebo nas canelas! )

Quero...
Quero...
Quero...

( Arfante )
E ainda continuo querendo...

E agora, sua besta, vai querer o quê mesmo?!
Melhor querer nada não!

Xilocaína

Se eu tenho medo da dor?
Eu tenho medo é do No Sense!

Esse ir e vir sem derreter os olhos nas paisagens.
Congelando forte
Pedra de gelo!

Fino corte...
Sem pele sem pelo!

Ausência de significância do toque
Caminhando na capa
Que nos veste!

Peste!

Me deixa carregar meu saco de ossos
Que é mais que platina!
É ousadia típica
De mulher sempre menina!

Não existe dor pra mim...
Experiência se fosse remédio
Seria um genérico da xilocaína!

A roda

Roda leve
Reles roda!
Que se rodares reles
Rola o riso rio afora!

Roda reles, roda agora!

Roda reles!
Leve a roda...
E roda!

Que se reles a roda rodar
De leve, o ruim vai rolar
Com sua roda de um mal de outrora
Rumo e roda a morrer na aurora!

Roda reles, roda leve!
Roda sim!
Na remoer do tempo
Quem dira a roda é o vento
Que seja bom tempo
E bom vento
A me rodar assim!

Sendo ou Ser? Eis a questão!

Eu quero ser livre ser
De beleza avulsa sem culpa!

Rua de mão única
Depois pista dupla
Ou cruzamento!

Tenho o meu encantamento próprio
De irridiar" eus" ao vento
E permitir vida soprar!

E só meu querer há de fazer mudar
O que for de mim
O que eu nem sei se sim
Ou se não, talvez!
- Romantico, bandido, burguês!

O que importa é viver sendo o que eu quiser
Ser simplesmente o que se é
Para mim é pouco demais
É para os muitos iguais
E só!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Deus

Cuida de mim!
Que sou obra tua...
Pétala caída de flor avulsa
Que é sensível demais!

Olha com teus olhos de fogo
E incendeia o mal que há em mim
E que desconheço!

Porque teu fogo se faz rio
E passa através da minha carne que é de vidro!

Orna-me com teus braços
Que te permito um toque que é leve!
E preciso tanto de ti
Que quase morro quando não te sinto por perto!

Perdoa-me porque não sou Deus!
Apenas humana!

Limpa-me!
Renova-me!

E escreve meu nome com amor!
E escreve esse amor em mim
Porque sei que nesse mundo de sal
És a única coisa que não tem fim!

Deus!
Palavra sozinha que se cria por conta própria!
( E grande demais para atribuir um significado a sua altura )

Com os olhos fundos

Tinha os olhos fundos de dor!
Por detrás deles, oculto, um vazio sem nome!
Sem memórias...
Sem resquícios...
Sem migalhas pra marcar o caminho de volta!

Sofria da síndrome dos buracos negros!

Caminhava como quem não quer ir a lugar algum...
Mas era preciso caminhar porque as pernas que mandavam nela
Exigiam esse esforço!

Andava catando vontades utópicas pelo caminho
Sugando desejos enormes
Vertendo punhais, espinhos e agulhas finas
Pelos olhos...
Que são fundos de dor!

Buraco Negro!

Um dia, passou alguém que pensou :
- Ela é triste, e isso dói!

Para ela, ser triste era como ser alegre
Só que ao inverso!
Trazia sobre si o seu cotiano incompreensível
Com uma força enorme
Que ela havia roubado das Cordilheiras dos Andes
Quando passou por lá!

Ela era assim...
Profunda como um rio
Mas quando ela passa ninguém vê
Quando vê
Já é outra a passar!
Mas ainda conserva os olhos fundos!

Flor de ti

Molda-me de barro!
Salienta-me o sal!
Arranca o meu doce em um cuspir de vespas e marimbondos!
E me atinge!

E me toca!
E me comove!

Assiste ao longe o meu desabrochar!
Vez ou outra me orna deusa
Despedaçando-me pétalas com prazer!

Mas o prazer é meu!
Prazer de um agrado ao inverso!
Mas ainda assim: - Prazer!

Meu diploma é líquido
Beija-me os lábios e escorre até o pescoço!
Mas o aprendizado é sólido e certo
Como as rochas o são!

Cola-me figuras interessantes
De bailarinas e suas primeiras posições
Que detesto!
Ponta dos pés não é pra mim
Que sinto-me baixa!

Queres de mim ser forte
Ser de metal reluzente
Certo ácido corrosivo
De auto-defesa e afirmação!

Mas não!
Eu sou lágrima sentida!
Dor desmedida!
Película de vidro!
Uma espécie rara de flor que se encolhe no verão!

Desnudem-me!

Desnudem-me!

Cascas e Cápsulas!
Bocas e olhos!
Peles e Ossos!

Arranquem de mim
De uma vez por todas
As palavras que ficaram presas entre os dentes...
Sentimentos presos nas unhas...
E o cisco preso no vidro dos olhos!

Mas não me criem adjetivos
E nem cheguem perto de mim
Com seus inúteis verbos de ação!

O idioma que falo é outro
É complexo demais por ser muito simples!

É que o mundo de hoje
Está acostumado a racionalizar todos os humanos!
Estão querendo implantar em gente
Moderadores de intensidade!

Ah! Em mim não!
Vão para os raios que partem coisas sempre que a tempestade se aconchega!
Eu sou a própria tempestade!
E acreditem, não vão querer ver o quanto de Poseidon
Existe em meus mares profundos!

Eu só espero
Uma troca de olhar que seja um mergulho!

Não escreva livros, teses, ou poemas
Não sou nada disso!
Eu sou o "tudo isso" solto no universo!

Universo esse inventado por mim
Onde cabem todas as outras coisas
Sejam elas que coisas são!
Mas ainda assim...
As coisas!

Ah! As coisas...
Inexplicáveis, inexprimíveis
Sem tradução pra idioma nenhum!
As coisas que não comunicam
Que atraem por atrair simplesmente!

Eu grito pela falta de lógica
Pela ausência de razão!

Pelo lugar esquecido onde apenas as epidermes sensíveis
Ouriçam os pêlos
Ao tocarem nos móveis desse lugar ermo!

Absurdo!
Esqueceram tudo!

Esqueceram de esquecer
O que ensinam nas escolas!
Não abandonaram ainda seus manuais de sobrevivência!
Vivem na dependência de algo pra depender!
Têm necessidades de explicações universais!

Mas não!
Erraram todos!
Errados e errados!

Viver é deixar-se encher de sensações!

Quando pego a faca de meus desejos
E sinalizo desde a testa até o centro do meu corpo
Com o giz da minha vontade...

Quando no intervalo de sensatez e razão
Eu tenho o fôlego que me leva ao corte...

Aí sim, estou viva!

Por ter tido coragem de deixar o peito aberto...
A mente exposta...
E o corpo só de afetos...
Para doer, sentir, e amar de maneira incansável!

Pássaro da chuva ou Vida de asas tristes

Atrás das nuvens espessas
Se esconde o cheiro das flores
Oculta-se um desejo de morte
Até a chuva cair e lavar a casa

Ainda assim, janelas abertas para o sol de um dia novo
Não é certeza de nenhuma manhã sozinha!
Não é garantia de nenhuma novidade risonha!

Rezam as mãos unidas
A procura da paz desbotada
Pelo sal dos olhos!

Lágrima é como estar honrada
Pelo véu das dores sagradas!
Lágrima é dor derretida de Mosé!
E quando presa, é câncer sim
E dói ainda mais!

Atrás de um vazio
De fundo negro
Eu encontro remanso
Em abraços amigos!

Não estou só em um mundo de milhões!
Eu sou milhões em um mundo sozinho!
E minha tristeza é mãe de pedra
Que não se parte em pedaçinhos de cascalho!

Sinto arder na pele
Certo ácido sulfúrico
Prognóstico de alívio
Insano e incompreensível
Daqueles que sofrem por sentirem demais!

Sim! Reconheço-me em cada célula sensível do meu corpo são!
Conjunto de micro-partes sentimentais que me formam
Cápsula protetora de myself!

Eu vi um pássaro solto!
Todo livre de gaiolas e viveiros
E chorei ao ver suas penas brilharem ao sol de meio de dia
Era a própria vida a tilintar colorida
Num vôo rasgante pelo céu da minha alma!

Eu não acredito no amor

Eu não acredito no amor!
Não nesses amores que falam as línguas alheias
Querendo meter os bedelhos em sentimentos inomináveis
Como se anjos fossem feitos de plástico!

Eu , que nunca amei ninguém ao ponto de querer pra mim...
Eu, que não sei receber sem me doar por inteira...
Eu, que ninguém sabe, mas que choro por amor...
E que de tantos amores, morro afogada...
Eu que de amar, esqueci de mim!

Mas que me reencontro em cada carícia de boca!
E em cada pedaço de peito rasgado
Me sinto Afrodite com linhas e agulhas!
Em cada toque ousado, me tocam mais os veludos azuis!
E que nos sussurros que eu ouço
Metais incríveis me avançam pelos ouvidos!

Mas não acredito no amor!
Não esse amor de contos-de-fada e novelas!
Esconderia o sapato de qualquer Cinderela
Que me venha falar de príncipes Canastrões!

Eu gosto mesmo é dos lôbos
Que uivam pra lua
E escrevem poemas!

Não amo pelas promessas...
E nem faço tratados de amor!

Desço as escadas dos encontros fortuitos
E me deparo com corações acelerados
E com a ausência dos calendários!

Pouco me importa que horas são...
Pouco me importa a durabilidade do tempo...
Eu amo sempre, no agora!

E quando acaba...
Eu guardo um sorriso entre as lágrimas
E a Vênus em mim
Dá logo um jeitinho de amar de novo!

Um amor que não se prende as armadilhas terrenas
Por ser divino e imcompreensível demais
Para os humanos que não se permitem o torpor
Dessa bebida sagrada e inebriante
Que indignamente chamam de Amor!
( Por ser banalizado demais... Amor é palavra que não me cabe mais! )

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lá e cá

Lá, era ela!

Aqui, só janela!



Lá, anoitece quando os olhos dela fecham!

Aqui, o sol invade o quarto pelas brechas!

Aqui, guardou os seus sapatos de festa!

Lá! Era a própria dança entre panos e meias!



Lá! Se dizia uma sereia, e se alegrava em cantar!

Aqui, ela guarda a voz costurada em teias

E aranhas nojentas saem de cada letra "A"!



Lá... Ela não morre nunca!

Aqui... Todo dia é Dia dos Mortos!

E sai por aqui, arrastando seu saco de ossos

Resquício de um corpo que pudera não ser só seu!



Lá não! Lá ela balança toda!

Põe seus valores a bancarrota

E brinda a vida pelo soriso que deu!



O que acontece com ela?

Se é ela em lugares só

Devia ser uma nota, ou um nó...

Mas é duas!



Duas pequenas ruas

Uma torta e uma reta!

Duas bocas pintadas

Uma vermelha, outra discreta!

Duas partes de si

Uma triste e outra feliz!



Mas quando olhava-se no espelho

Era ela! Igualzinha...

Diante de seu nariz!

Cabelos

Sou toda composta de dores

Mas é nas flores que me apego!

Minhas linhas são tênues, estou sempre por um fio

Peito aberto, assim vazio...



De certo...

Um remanso deserto onde tenho o costume de me afogar!



Esvazio-me toda por cima do tédio

E sinto cada toque de um sentimento

Que não me obriga a nomeá-lo!



Nomear um afeto

É como desabrigá-lo!

É despí-lo de sua alma

E incutir-lhe um rótulo!



Quem pode andar pelas ruas exibindo etiquetas?

Privilégio de poucos caretas

Línguas de fora, e cara feia.



Sou mais de chorar areia

E cuspir cascalhos prontos e feitos pelo estômago!



No meu cabelo está o segredo

Meu grande segredo!

Emaranhar os momentos...

Desembaraçar emoções...

Com pente de dentes largos e muita suavidade!

Assim, fios soltos, e livres

Posso experimentar por minha boca

O gosto forte da felicidade!

O soldado do peito de chumbo

Chegou bem tarde!

Abriu gavetas pesadas, todas cheias de vazio profundo misturado à bagunça!

Sentou-se aos pés da cama para reler artigos de jornal velho:

- Amarelos! Rasgados! Manchados de tinta e sangue!

Lembrou-se da guerra!

Ficou frio feito navalha!

Vestiu coturnos em seu coração

E teve vontade de esmagar as pessoas que hospedou ali dentro!



Mas ele não trazia nos olhos cicatriz de pessoa ruim: - Não!

Apenas o cansaço o dominara pela distância das horas

Que insistiam em dizer a ele que ninguém se importava!



Enquanto o tempo passava...

O deixando para trás...

Sentia-se incuravelmente só!

Tanto amor para tanta gente

E tão pouco braço para retribuir os abraços!



No bolso, trazia uma porção inteira de mágoas!

Apenas mágoas!



Não ódio! Não raiva!

Mágoa!



Porque no dia em que fardou seu peito pela honra de seu país...

Perdeu a sua honra própria!

Brigou com sua guitarra! E foi-se!

E hoje, pátria amada não ama ninguém!

Pátria amada enterra valores humanos

E substitui por máquinas!



E é tanta máquina

Que os humanos estão maquinando robôs

Sem se dar conta de que já os são!



Deu um trago em um conhaque qualquer

E buscou em sua memória algumas pessoas importantes para si!

Haviam alguns rostos! Poucos!

Mas havia!



Foi mais a fundo...

Decidiu apagá-los!



Amar sozinho não faz bem ao coração!

E esse ainda não baixou a guarda

Não guardou as armas!

Aprendeu a proteger-se por necessidade!



Ele pingava a casa toda

Com o seu sal e amargo

Até as paredes chorarem!

Olhou-se no espelho!

Sentiu saudades da guerra...



Desejou ser um soldado morto

E morreu de tristeza atônita!

A natureza dos humanos

Com quantos pés se faz um caminho?

Ainda que chão de terra...

Ainda que sozinho...



Com quantos olhos se faz uma alma?

Ainda que branda...

Ainda que calma...



Com quantos fígados se faz um torpor?

Ainda que bílis...

Ainda que dor...



Qual a largura de uma pele?

Qual o diâmetro de um coração?

Quanto pesa a consciência?

Como separo o sim de um não?



No mundo de humanos poucos...

No mundo dos nobres e  loucos...

Alguma contagem!

Alguma certeza!



Certo de ser grande demais para contar...

Os mistérios profundos da nossa natureza!

O corpo!

Peguei emprestado um corpo que é torto e dói

São lâminas, giletes, navalhas, que o corpo constrói!

E o ácido que corre

Deforma!

E a fome que mato

Retorna!



O corpo que habito no mundo é de chumbo e pesa

Não crê, não enxerga, não ora e nem reza

E a lucidez que escorre

Enjoa!

A lágrima entornada

Garoa!



Com o corpo eu me sento ao relento esperando por nada

Sem banco, sofá, poltrona, ou arquibancada

E o jogo que jogo

Acabou!

E alma do corpo

Zerou!



Arrasto esse corpo por mundos sem fundos de mim

Quem sabe, talvez, ou não, pudera ser sim

E as respostas que dou

Não valem!

E as feridas que restam

Só ardem!



E os olhos do corpo se cerram...

E os dedos do corpo se movem...

E o sangue do corpo ferve...

E o corpo que falo não serve...



Por ser triste demais!

" A arte é um estado de encontro fortuito"

 Tenho dentro de mim, no âmago do que me forma, uma insatisfação absurda, uma espécie de vazio que me engole, e que acredito eu, é um dos principais motivos que me torna artista. Andei pelos corredores da universidade à procura de algo que ainda não sabia bem o que era, no desejo de que minha insatisfação com essa " coisa " ( Segundo a definição de Émile Durkhein a respeito dos fatos sociais, para ele definidos como "coisas") não desaparecesse dentro de mim, mas que me servisse de impulso para experimentar e criar em cima disto através do sensível que é inerente ao ser humano, mas que por vezes é mecanizado e padronizado segundo as condições socias e comportamentais em que somos brutalmente inseridos. Eu queria (e continuo querendo) mais da minha arte, desejava ( E continuo desejando ) afetar e ser afetada Deleuziosamente* através da minha arte, de sua subjetivadade, por intermédio do que é sensível, e esperava da academia, algo próximo ao alimento da minha fome. " Em contrapartida, a academia - assim como os congressos , reuniões científicas, encontros e demais atividades voltadas ao fomento, divulgação ou discussão das pesquisas desenvolvidas por artistas-pesquisadores - deve cuidar por não limitar, com regras demasiado rígidas, a liberdade formal e conteudal em que se apresentam os estudos práticos em arte, sob o risco de pasteurizá-la pela forma ou pela abordagem temática, e reduzir a possibilidade de criação de potência e sua influência a novos acontecimentos em arte e pesquisas acadêmicas.( Anti-Artigo ou Artigo para a diferença -Diego Baffi)"  Só consegui , me livrar das "rédeas acadêmicas", quando puxei as disciplinas de ATAT e a prática paralela do treinamento para o performer, após ter feito ATT com a Tânia Alice, e ter aberto uma brecha da porta, onde por trás dela, ainda meio tímida, pude ter uma ideia do que é performance. Política, subjetiva, poética, estética, relacional, dentre outras coisas, a performance permite ao artista habitar " (...) as circunstâncias dadas pelo presente para tranformar o contexto da nossa¹ vida ( nossa¹ relação com o mundo sensível ou conceitual) num universo duradouro". Uma questão de "aprender a habitar melhor o mundo" sem construir ideologias, nem utopias, construindo apenas um outro modo de existir, um outro modelo dentro dessa realidade que já existe... Seja essa realidade, qualquer realidade vista pelos olhos do artista ... Isso, era o início do que eu estava buscando. Em um outro momento, momento já da re-criação, me "deparei" com Valie Export passenado com Peter Weibel amarrado por uma coleira, de quatro como um cachorro, pelas ruas. Um vínculo foi gerado naquele momento! Com tremendo poder de reliance², signos, ícones, siglas, símbolos, bandeiras, logomarcas, e tudo que vinha das imagens que eu via, me diziam algo (subjetivo demais, mas gritavam, eu dava importância ou não, mas eu ouvia!) E aquela imagem, instaurou entre mim, Peter e Valie uma proximidade, estreitando o espaço da nossa relação, que acabara de surgir, naquele espaço/tempo fora do cotidiano, no cenário da cidade, cada um com sua subjetividade, mas uma elaboração coletiva do sentido. Tinham outras pessoas também, obervando aquele instante que ia passar em algum momento, que também faziam parte dessa nossa relção. A arte de Peter e valie, ia sumir no tempo, restando apenas o registro, mas naquele instante presente, todos ali habitamos um mundo em comum, uma criação a partir uma estética relacional, derivada desse nosso encontro fortuito. Eu fui afetada, e quis afetar. Encontrei uma performance que gostaria de reproduzir. Eu convidei um amigo querido, que também é ator: André Siffert, para a "Re-criação" desa performance. Escolhemos como cenário: a "Calçada da fama", uma rua bastante populosa da cidade de Teresópolis onde o comércio é grande ( Escolhemos Teresópolis para experimentar a construção desse trabalho em uma cidade pequena, que começa a acordar artísticamente agora, por muito esforço dos seus respectivos artistas). Queríamos de alguma forma, interagir com o quadro capitalista inserido pelo Sr. Papai Noel aos transeuntes e lojistas presentes naquele espaço, onde as pessoas passam, compram e voltam para as suas vidas privadas, muitas vezes até esquecendo de desejar um bom dia ao funcionário que os vendeu, ou vice-e-versa. Por isso, eu, que fui carregada na coleira, ou seja, estava representando a "classe oprimida" por esse tipo de consumo (Traçando um breve paralelo com Augusto Boal ), usava como símbolo, um gorro de Papai Noel. Essas imposições tradicionalistas costumam me causar dor! Sempre me incomodou a distância que esse sistema coloca entre as relações humanas e a forma com que lidamos com os afetos hoje em dia, de maneira muitas vezes fria, dolorida, semelhante a um corte abrupto ao que temos de mais humano e sensível dentro de nós. " A mecanização geral das funções sociais reduz progressivamente o espaço relacional". Eu quis mostrar essa dor, e quis também inserir a perda da identidade por intermédio dessa mecanização das coisas, por isso, coloquei sobre o rosto, faixas daquelas que colocam sobre as fraturas, nos hospitais. Sem voz, calava-me uma fucinheira. E o André, desfilava comigo pela rua com um terno e uma gravata, observando as vitrines, vendo as matérias das revistas e jornais nas bancas. Não era uma imagem agradável aos olhos, e eu senti que muitas pessoas ficaram realmente chocadas com o que viram. De acordo com a leitura que faziam, muitas pessoas ficaram perturbadas. " A função crítica e subversiva da arte contemporânea agora se cumpre na invenção de linhas de fuga individuais ou coletivas, nessas construções provisórias e nômades com que o artista modela e difunde situações perturbadoras". E era isso que fazíamos, traçávamos nossa linha de fuga embasada na nossa realidade, na verdade que tínhamos diante daquelas lojas e produtos. Mas não dizíamos nada com nossas bocas. O André, eventualmente dava um boa tarde a alguém, mas nada além disso. Muitas pessoas fizeram uma leitura acerca do machismo, aceitamos quando nos propusemos a olhar de fora (Sabe-se que é necessário ter um olhar interior e outro exterior acerca desse tipo de trabalho), pois lidamos com questões subjetivas, e a performance de Valie e Peter me sugere também uma ação feminista, portanto, tudo isso nos coube muito bem. Se de fato, ainda existe um machismo irracional, que as pessoas vejam então, que se sintam incomodadas se esta for a sua forma de reação. O que queremos é que sintam, se relacionem, que percebam, que comentem, que se desloquem, que problematizem... Assim como nós. Cada um com sua subjetividade, afetando e se deixando afetar. Gostando ou não, apoiando ou não, éramos um bom quadro, e conseguimos condensar naquele instante uma emoção que o espectador deveria viver e prolongar. Por mais que alguns não compreendessem e achasse aquilo tudo uma falta de melhor aproveitamento do tempo, ninguém retirava o olhar da nossa imagem. Ao fim da performance, uma mulher nos surpreendeu. Ela estava com raiva, se dizia constrangida. Disse-nos que enquanto mulher se sentiu ofendida ao assistir o nosso passeio, e como já não estávamos mais performando, eu, enquanto artista, tentei lhe explicar e ela sequer me deu ouvidos. Ela usava um tom de voz agressivo, e gritava coisas como : - Isso não é arte! Não pode ser! Arte é coisa fina! Se eu quisesse ver algo assim, eu pagava para ir ao teatro e assistia, mas, na rua... Na rua vocês não podem fazer isso. Não têm esse direito!

"Se a opinião pública tem dificuldade em reconhecer a legitimidade ou o interesse dessas experiências, é porque não se apresentam mais como prenúncios de uma inexorável evolução histórica: pelo contrário, elas se mostram fragmentárias, isoladas, sem uma visão global do mundo que possa lhes conferir o peso de uma ideologia. Não foi a modernidade que morreu, e sim sua versão idealista e teleológica"." Agora ela (A arte*) se apresenta como uma duração a ser experimentada, como uma abertura para a discussão ilimitada." E era isso que queríamos, atingimos o nosso objetivo, inauguramos uma discussão acerca do que acontecia naquele instante em frente as lojas. Tempo mais tarde, ideias mais esclarecidas, um outro entendimento a respeito do que fizemos, dei-me conta de que havia exagerado um pouco nos objetos, acredito que não precisava da faixa, nem da fucinheira, que eram signos demais e que pode ter ficado um pouco confuso, e também, que a imagem poderia ser diferente caso eu convencesse o André a ir na coleira... Podíamos até alcançar melhor as questões acerca do Natal, do consumismo característico dessa época, e da "falsa aproximação" das pessoas nesse período. " A arte contemporânea realmente desenvolve um projeto político quando se empenha em investir e problematizar a esfera das relações". Queremos outras trocas, mais afetivas, mais humanas, mais sensíveis... É isso que propunhamos, de acordo com o inteligível que nos coube. A arte contemporânea apresenta modelos possíveis, livres de ideologias e utopias, apenas modelos possíveis a realidade que está aí, formas de habitar esse mundo. Outras relações, não-cotidianas, não-mecanizadas, se criam a partir de então. Como definem Deleuze e Guatarri " (...) a obra de arte como um bloco de afetos e perceptos: a arte mantém juntos momentos de subjetividade ligados a experiências singulares (...)" Considerando tudo isto, fizemos o melhor que pudemos. Nos entregamos ao trabalho, e seguimos. Hoje, eu sei que o caminho ainda é longo, e que uma vez meus olhos abertos, uma vez percebido o mundo dessa forma, nada será como antes. Performance como arte da vida real, assim que eu vejo. Se é isso mesmo ou não, dispenso o certo e o errado, fico apenas com o que já tenho sem limitá-lo a conceitos cristalizados. Quero estar aberta as relações.



Bibliografia:

BORRIAUD; Nicolas; A estética relacional;

MELIN; Regina; A performance nas artes visuais

BAFFI;Diego; Anti-artigo ou Artigo para a Diferença

A amizade como ponto de iluminação!

Se o amor remove montanhas... A amizade remove fronteiras! Porque também é uma forma do amor!

Penso de mim um ser como ti, uma centelha divina presente que se mantém sempre na necessidade de pessoas afetuosas... Porque a vida seria mesmo uma espécie de vazio se não fosse a capacidade que temos de afetar e sermos afetados, principalmente afetos do tipo amor, em todas as suas formas!

Ter amigos é composição em tela larga, de profunidade absurda, pintado a mão em finos detalhes, por um artista genial... Daqueles de traços firme, e inspiração como parte de si.

É uma forma de iluminar e ser iluminado através dos sorrisos ridos juntos...

De evoluir pelos passos mal dados e pisadas recebidas com ou sem inteñção de ferir...

E principalmente pelos perdões!

A amizade é sim um amor parte um amor maior...

Um pontinho necessário nessa longa caminhada cheia de outros pontinhos rumo a iluminação das nossas almas, afetos, e mentes!

Considerações

Considere-me um ser a parte!

A parte reversa do impulso que vai...

E a parte que fica, por pura teimosia.

Considere-me um objeto não identificável!

Que paira sobre os corações mais embebecidos

 E pelos olhares mais distantes.

Me deixa ser um eterno estar

Que a tradição de distribuir rótulos aos pequenos mistérios

Me cansa e consome!

Permita-me a graça que tem o meu riso inócuo!

A beira da loucura...

Inventando riscos...

Se jogando aos poucos.

Quero ver os amores sendo feitos

Com intensidade elevada a raios precisos.

Um Voayare que assiste a tudo do quintal

E compartilha desse imenso prazer!

Me diga, mas não grite comigo!

Que meus ouvidos são sensíveis

A danos morais.

E é de praxe em meus procedimentos

A quebra de todos os dedos ristes.

Arrisque-se e aposte em mim!

Que eu costumo ganhar sempre

Que a batalha é rotineira.

Porque tenho a dádiva do inesperado

Na habilidade dos meus gestos.

Não me julgue, não me amole!

Não se canse, me engole!

A goles secos, se necessário for!

Caso não tenha nos olhos duros, a  película captadora das grandes almas...

Porque eu tenho o mar em mim!

Tenho sim!

E é por isso que eu balanço!

Por isso o meu chão é torto!

E é por isso que eu vivo afogada!

Debaixo d'agua

Sou tão pequena quanto os meus atos. Minhas mãos carregam o peso das pedras que por serem belas eu guardei entre os dedos. Eu sou movida a sensações que escorrem como água, e me afogam em trombas d'água pelos olhos! Eu sou bem menor do que os metros podem medir. Meu empenho em ajudar não é mais do que uma mosca afoita procurando a luz nas estrelas no brilho falso das lamparinas. Estou completamente inundada e não sei o que fazer de mim! E não me sinto à vontade de pensar na naturalidade da morte, porque acabo de ver muita gente morrendo segurando as batidas do coração até o próximo minuto, até o próximo minuto, até o próximo minuto... Um minuto de paz em meu relógio a prova d'água! É o que eu preciso, no entanto, como um animal desprovido de racionalidade e feito só de coração e pele, afasto a paz de mim sempre que posso! Mas não pensem que é por intento meu, é por solidão, e é por amor, e é por louvor as coisas bonitas da vida... E por mal-compreensão que a paz bate a porta na minha cara... Congela o meu relógio emocional. Tenho saudade absurda do vestido que usava quando criança, porque sempre soube que ele não combinava com relógios. E cresci assim... prefirindo ser chamada de bicho do que de gente. Sentindo muito mais do que sendo robotizada. Tacando taças cheinhas de conceitos pré-formulados e envelhecidos por 12 anos, na parede. Mas alguém muito esperto já disse antes que uma andorinha só não faz verão, e parece que só eu vivo em calor intenso. Em águas revoltas. Que quando me invadem, misturam tudo em mim, me fazendo despencar pedras abaixo. Um dia eu acordei, e isso foi materializado! Eu vi casas cairem, mas eu tinha ainda a casa que com sangue, suor e lágrimas, ergui. E vi o olhos todos feito mares tristes e sem fim. E vi a face da morte, sem encará-la de frente, e escapei. Por ordem do acaso, por ordem de Deus, por ordem dos próprios homens, por ordem de algum governo ou falta dele, da falta de ordem que ninguém entende... Que tudo aconteceu! Provocou em mim um desmonte das minhas pequenas partes. Senti os estilhaços vagarem sobre a pele, e percebi que todos eram eu. Me senti pequena. Tive vontade de juntar meus pequenos atos e ir embora!

12 de Setembro às 22:38

Hoje, às 22:38, cogitei escrever qualquer coisa que deixasse vazar de mim um oceano e seus mares. Tentei criar uma espécie de tubo transparente por onde as emoções passariam sem entupir nada. Ontem mesmo, eu sofri um rompimento em minhas instalações pessoais naturais. Devia ser amor preso, devido a pressão de amar sempre igual ou mais! É isso! Eu também sofro de mau funcionamento sensível de vez em quando.E ontem, durante o vinho e o jantar, eu tive que me retirar sorrateiramente da mesa para que as pessoas não me percebessem catando sensações pela noite a fio. Quando eu passei a sombra dos meus dedos por sobre a matéria, que deveria ser fria porque a fervura dos nervos pode ser inflamável para as fortes emoções, não consegui produzir um instrumento que me servisse. Decidi escrever. Escrever sem causa, nem porquê, sem razão lógica, anti-matemático mesmo! Palavras sem pés e de cabeças expostas, face limpa. Sem marcas de intenção, mas ímpeto forte! E assim, a escrita vai tomando forma, tomando forma, forma, formando uma cadeia de coisas a serem ditas por mim, que sou hoje, pior do que ontem, mas que amanhã quero um amanhecer na luz do sol literalmente pintada de sol, linda, linda!Como a saudade da minha amiga Alice, que é linda também!Mas o meu escrever, não é mágico, é só poético! E eu, não - esotérica, sou etérea, e não sei o que fazer com isso. Qual o destino que devemos dar as coisas? Sabe-se que lugar de lixo é no lixo por convenção, e por convenção sabe-se identificar o que é lixo ou não, mas eu, que tantas vezes vaga, tantas vezes margem, inconvencionável ser de mim, onde guardo as minhas coisas? Desde que aprendi a respirar, eu vou juntando meus trapinhos, que é uma forma carinhosa de me referir a essas coisas, em um lugar qualquer do meu espírito confuso. Agora, 23:07, percebo que já escrevi alguma espécie de relatório noturno e solitário sobre as características abstratas do meu devaneio. Resolvi então o problema dos rompimentos, e da minha hipersensibilidade  tubular. Não mais me deixarei entupir, e sentirei antecipadamente a minha morte por meio de sufocamento sentimental. Escrevi! Operação realizada com êxito. Eu apenas continuo sem saber onde guardar todas as coisas... E continuo sendo pior do que ontem esperando o amanhã aparecer na minha janela e me jurar que eu posso sim mais do que isso, que eu vou, que eu sou, e que minhas metamorfoses são sim um ponto de força. Será, meu Deus? Será? Será que estou fadada a estar fadada sempre? Será que não é melhor parar de escrever pra acumular tudo e explodir de uma vez? Porque de esperar respostas, de esperar mudanças, de esperar resultados, minha face emotiva criou rugas horrorosas. E eu vou ficando feia porque os tecidos d'alma perdem a elasticidade quando a esperança vai ficando escassa.São 23:19! E eu vi os numerais do relógio digital se alterarem, e virarem 20. Vi minha inspiração se esvair. E parei de escrever por hoje. Agora, 23:21!