Cheira tudo que se move ... Olha tudo que perfuma... E come tudo que sente! Sem digerir nada! Bebe litros de culpa, e depois... Vomita! Até livrar-se por completo do mal estar! Amaranta já encontrou o seu lugar no mundo, e o seu lugar em si mesma, que é fora de si!



terça-feira, 28 de junho de 2011

Íris

  Um dia, abri os pequenos olhos e não quis chorar! Esbocei um sorriso na íris, e fomos andando nas ruas, olhando as pessoas, sorrindo para elas, sem receber muitos sorrisos de volta!
Mas é claro que isso não me incomodou! E porque eu haveria de me incomodar com a ausência de sorriso alheio? Por acaso é novidade que as pessoas estão ficando mais tristes conforme a ausência de tempo?
   Nesse instante, furioso, um senhor acusou-me de calúnia! Uma espécie de corpo sem rosto, só que corpo-móvel, corpo-ágil... Parecia feito de vento. Apresentou-se como o próprio tempo  e não economizou sermões:
- Quero saber, quando é que eu faltei! Me diga!
Eu, rapidamente e muito constrangida, fui enrubrescendo... Até ganhar um aspecto pitoresco! E não é que o danado tinha razão? Tempo não falta! Tempo é o que sobra!
-O que falta é gente pra viver o tempo! - Resmungou o velho!
Tive que concordar!
Ajudei ele a enrolar uma barba tão grande e branca durante tanto tempo, que pensei ter alcançado a graça de ser imortal. Que nada! Ele me deu foi uns minutinhos de descanso, e me mandou voltar ao meu instante normal, porque ele precisa correr! Obedeci!
  Voltei para minha íris, tão menina dos olhos meus... Fitávamos cada nariz, olhos, boca, cabelo...
Caí na gargalhada!
- Que foi? Tá me olhando porque? E tá rindo de quê? Não tem medo não é? Vou te mostrar!
Se não fosse alguma mão pra segurar aquelas mãos, eu não estaria escrevendo isso hoje!
Como pode? Queriam me bater por eu achar graça no constrangimento que as pessoas têm ao serem obeservadas. Ìris, não olha mais outras íris, e nem sorri. E quando uma íris percebe a outra, a que está sendo olhada geralmente procura se esconder atrás de pálpebras cerradas. Perderam o hábito de se olharem, assim como perderam o hábito de viver o tempo.
  Uma felicidade estranha me dominou naquele instante! Uma espécie de conforto em saber que meus horários são maleáveis para que eu possa viver o tempo, que não importa quantos olhos fechados eu vou ver, mas que sempre haverá um olhar aberto para minha íris descansar, e que sou feliz! E minha felicidade não foi comprada em cartões de crédito, cheque ou à vista... É minha, porque a cativei no mesmo dia em que o pequeno príncipe cativou a rapozinha... Agora, somos dois responsáveis. Só que em vez de rosa, tenho a minha íris, que é linda de morrer. Permita-se observá-la!

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